Caruaru vai engolir o acordão?

Em política, o adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã. Esta máxima pode ser aplicada, rigorosamente, ao acordo fechado em Caruaru entre dois políticos fortes e tradicionais do município, que já falaram a mesma língua no passado, mas que nos últimos anos capricharam no exercício da chamada política figadal na busca incessante pelo poder. Refiro-me ao prefeito José Queiroz (PDT) e ao ex-governador João Lyra Neto (PSDB), que, ontem, deixaram as idiossincrasias de lado para tentar eleger a tucana Raquel Lyra, herdeira política de Lyra, prefeita do município.
O inimigo comum que provocou a reconciliação entre os Lyra e os Queiroz atende pelo nome de Tony Gel, ex-prefeito por dois mandatos, o mais votado na eleição de primeiro turno como candidato do PMDB. A notícia, confirmada em anúncio oficial no comitê de Jorge Gomes (PSB), candidato que Queiroz apoiou no primeiro turno, tendo desempenho pífio, ficando em quarto lugar entre os mais votados, caiu como uma bomba em Caruaru. Tudo porque nos últimos anos, desde que Queiroz foi reeleito em 2012, Lyra e ele adotaram o ringue como lugar comum para o bombardeamento de ataques que derivaram da política para o campo pessoal.
Quando João Lyra não apoiou a reeleição de Queiroz em 2012, com uma nota paga nos jornais do Estado, o prefeito devolveu com uma agressão bem-humorada. “Sei que João consertou o coração, mas não sei o que há com a cabeça dele. Ele não anda bem das faculdades mentais”. O ex-governador havia se submetido a uma cirurgia para implante de pontes de safena em São Paulo.
“Queiroz fez uma administração pífia, não se modernizou e com ele Caruaru não avançou”, disse, em outra oportunidade, o ex-governador, numa entrevista a uma emissora de rádio do Recife, provocado a fazer uma avaliação da gestão do desafeto e agora aliado. E acrescentou, para irritação do prefeito: “Só vejo de concreto nas ruas de Caruaru o asfalto e não temos nenhuma obra estruturadora na cidade”.
Numa entrevista ao Frente a Frente, programa que ancoro em rede estadual com 44 emissoras, Queiroz disse que o ex-governador João Lyra Neto (PSB), embora natural de Caruaru, não fez absolutamente nada em favor do seu desenvolvimento ao longo dos nove meses de gestão. “João não fez nada por Caruaru”, desabafou. E acrescentou: “A única coisa que João Lyra fez em Caruaru foi abrir uma sala para funcionar o Expresso Empreendedor”. Queiroz lamentou que o governador não tivesse acatado nenhuma sugestão por ele levada em audiência no primeiro dia de seu mandato, em abril. “Apresentei um conjunto de 14 obras e nenhuma saiu do papel”, afirmou.
Queiroz e Lyra se agrediram muito mais do que isso. Tão logo o acordo foi anunciado, ontem, pelas redes sociais explodiram uma porção de áudios reproduzindo declarações de ambas as partes de agressões mútuas. Caruaru vai compreender o acordão, que provavelmente passa pelo apoio do grupo de João Lyra à reeleição do deputado federal Wolney Queiroz, filho do prefeito, em 2018? Só as urnas no próximo dia 30 serão capazes de dar essa resposta.
LYRA ESTENDEU A MÃO– Quem tomou a iniciativa da reconciliação em Caruaru foi João Lyra Neto (PSDB). Tão logo saiu o resultado da eleição em primeiro turno, domingo passado, confirmando o segundo turno entre Tony Gel (PMDB) e Raquel Lyra (PSDB), o ex-governador ligou para prestar solidariedade a José Queiroz pela derrota do seu candidato, o atual vice-governador Jorge Gomes (PSB). E acertaram a primeira conversa para o dia seguinte, após Raquel falar também com o prefeito e o seu filho, o deputado federal Wolney Queiroz (PDT), que perde uma Prefeitura importante para o seu projeto de reeleição em 2018.
do Blog do magno Martins.