Mal começa a falar do filho e o aposentado Uillis de Freitas se derrama em elogios. Cada frase é permeada pelo nome do primogênito acrescido de um adjetivo positivo. O rebento em questão é o técnico do Sport, Mazola Júnior, cujo nome de batismo é Uillis de Freitas Júnior. Seu Zuza, como é conhecido Uillis pai, fez questão de sair de Campinas para conferir de perto o trabalho do filho em Recife.
- É um filho muito bom, honesto e sincero. Apesar de aparentemente ser ríspido, é muito educado. Soubemos criá-lo bem. Tenho muito orgulho dele - diz Seu Zuza.
O aposentado chegou à capital pernambucana esta semana para passar o aniversário da esposa junto a Mazola Júnior. A visita passaria despercebida se o técnico do Sport, durante o treinamento do Leão, não fizesse questão de apresentar o pai a todos que estavam na Ilha do Retiro.
- Somos amigos, tenho muito orgulho dele. Não é à toa que as minhas principais amizades em Campinas são os amigos dele. É um cara espirituoso, brincalhão, nunca o vi de cara feia. Tínhamos um restaurante na cidade. Quando ia deixar meu filho na escola, vi uma fumaça e corri... era o restaurante pegando fogo. Fiquei desesperado, olhei para Seu Zuza e ele na tranquilidade solta: ‘É, faz tempo que a gente estava precisando fazer uma reforma’ – conta Mazola, às gargalhadas, mostrando que o orgulho é recíproco de pai para filho.
É um filho muito bom, honesto e sincero. Tenho muito orgulho dele"
Seu Zuza
Histórias pitorescas e cheias de carinho são o que não faltam na relação entre Mazola Júnior e seu Zuza. O pai conta que o apelido Mazola surgiu quando o atual treinador do Sport integrava as categorias de base da Ponte Preta. Na época, o preparador físico do clube dizia que o jovem jogador parecia com o atacante Altafini, o Mazola, que foi campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1958.
Torcedor da Ponte Preta, daqueles “doentes”, seu Zuza tem um bar perto do estádio da Macaca, o Moisés Lucarelli. O lugar é ponto de encontro dos torcedores pontepretanos pela localização estratégica e também pela paixão do dono ao clube. Mas há dias em que a Ponte Preta não tem vez. Para isso, basta que o Sport e, claro, Mazola Júnior entrem em campo.
- O pessoal se reúne no meu bar para assistir aos jogos do Sport, por causa de Mazola. Teve até jogo da Ponte Preta que foi deixado de lado. É uma festa - revelou seu Zuza. Ele, inclusive, teve que aturar a provocação do filho quando o Sport bateu a Ponte por 3 a 1, no ano passado, durante a Série B do Campeonato Brasileiro.
Se dentro das quatro linhas Mazola Júnior passa a imagem de ser uma pessoa séria, fora de campo o pai mostra que é bastante brincalhão. Bem humorado, ele contrasta com a fisionomia fechada do filho. Ambos passaram por situações penosas na vida, sofreram por doenças na família e batalhas na busca por espaço.
Uillis pai já foi dono de fábrica de durex, de restaurante e chegou a ser diretor das categorias de base da Ponte Preta. Já Uillis filho perambulou pelo mundo futebolístico atrás de uma fama que nunca aconteceu, foi dono de clube de samba e trabalhou no restaurante da família.
- Tinha vezes que era lasca. A gente trabalhava o dia todo, quando chegava ao final do expediente só dava para pagar as despesas. Nada de sobra - revela Mazola.
O futebol surgiu por acaso na vida da família Freitas. Apesar de ser fanático pela Ponte Preta, seu Zuza não forçou o filho a ser torcedor da Macaca e nem a ser jogador de futebol. Mas Mazola tratou de pregar uma peça no pai.
- Cheguei em casa e a minha mulher estava preocupada, dizendo que Mazola tinha saído cedo com um homem para jogar na Ponte Preta. Eu nem considerei, pensava que era brincadeira. As horas foram passando e eu fui ao clube. Ele estava lá, jogando com uns caras bem maiores, apanhando. Fui reclamar ao treinador. ‘Como pode esse menino de nove anos jogar com esses rapazes?’ ‘Nove? Ele disse que tinha 12’, respondeu o técnico – relembra seu Zuza.
Foi o treinador do Sport quem colocou seu Zuza na Ponte Preta. Ele acabou sendo diretor das categorias de base por sete anos, de 1975 até 1981. Seu filho foi tentar a vida como atacante e chegou a jogar na Itália e em Portugal, em times de menor expressão. Agora o pai está feliz com o sucesso do filho e já se prepara para ouvir possíveis xingamentos da torcida no próximo sábado, na Ilha do Retiro, quando o Sport recebe o Serra Talhada pelo Pernambucano.
Seu Zuza assistiu ao treinamento do Sport e vai acompanhar o jogo de pertinho, mas garante que, em nenhum momento, opina no trabalho do filho.
- Não dou conselho a Mazola porque ele sabe mais do que eu. Como posso opinar? Tenho as minhas opiniões, como o 3-5-2 que é um esquema que gosto, que está prevalecendo, mas tem que ter as peças para compor qualquer tática. Só se faz omelete se tem o ovo. Mas esta é a minha opinião.
Fonte: Globo Nordeste.


