O amigo do meu pai.


Na lógica da vida, nossos pais nos oferecem a oportunidade de usufruirmos de heranças. São sobras deixadas daquilo que eles viveram e construíram ao longo de suas vidas.

Na educação, na simplicidade e nas amizades, meu pai me deixou muito, muito mais que eu pudesse esperar ou pedir. Dessas heranças inestimáveis, ele me influenciou a estar perto dos mais velhos, ouvir eles, aprender com eles e seguir a vida com as grandes experiências de cada convivência.

Um de seus melhores amigos, seu João de Berto, de quem acompanhei de perto a amizade e a convivência, herdei também a amizade. Lamento que o estreitamento do nosso contato tenha vindo após a morte do meu pai. Mas ainda pude ouvir estórias, relatos de quem viveu em tempos que eu também desejaria viver. Alguém que apesar da idade avançada, não se furtava a debater política com um jovem de um terço da sua idade, tudo pela paixão de passar a diante o que sabia da área.

Seu João foi um apaixonado pela vida no campo, paixão também do meu pai, e que também prezo pelo respeito e admiração. Afinal de contas são essas referências de vida, que eu aproveitei para construir a minha. Através desses contatos, fui formando o gosto pelas coisas sertanejas, a cultura local, o aboio do vaqueiro e uma paixão por tudo isso.

Lembro que em uma dessas conversas cheias de história, seu João me contou que em duas ocasiões esteve próximo do Rei do Baião Luiz Gonzaga. Conversamos em uma entrevista para um trabalho da faculdade, e ele inclusive lembrara de uma visita de Gonzaga à Toritama, em 17 de maio de 1957, às vésperas do centenário de Caruaru. Lembrou inclusive a primeira canção cantada na apresentação rápida do cantor acontecida no antigo açougue público, “Ele tocou açucena cheirosa”.

Seu João foi daquelas memórias cheias de riqueza, que vale a pena parar para ouvir. E eu na inocência da vida, fiz questão de ser um bisbilhoteiro de suas conversas com meu pai. Assim criei afeição e admiração pela sua personalidade firme, sua essência simples de um homem que veio do campo, mas cresceu como comerciante, e vislumbrou através do tempo o crescimento de uma cidade. Na política esteve presente nas lutas por uma Toritama melhor.

Faço com muito cuidado, uma dedicatória para a história, resumo de grandes momentos, e que com toda certeza seria a vontade do meu pai, nas lembranças de um amigo querido. Dessa relação nada mais posso contar, nada que possa ser melhor do que o diálogo que agora acontece no céu. Resta aqui, o meu debruçar sobre o que pude acompanhar deste grande cidadão, amigo do meu pai.

Por Jessé Aciole.