Promessa do Santa Cruz superou fome e problema cardíaco na base Lesões musculares que atormentam Natan nas duas últimas temporadas não são as únicas barreiras da carreira do meia tricolor de 22 anos

Inúmeras dificuldades que são, pouco a pouco, superadas. Assim como quem sobe uma ladeira, o meia Natan, do Santa Cruz, vai encaminhando sua vida. Para chegar até o elenco profissional do Tricolor pernambucano, não foram poucas as barreiras que o jogador teve que saltar. Dificuldades que surgiram ainda no início da carreira, quando tinha que se virar até mesmo para poder comer. - Eu jogava em uma equipe humilde lá na Bahia. Eram três refeições por dia, mas ficava tudo trancado, porque havia muitos furtos. As únicas coisas que ficavam fora da despensa eram farinha e açúcar. Depois dos treinos, morto de fome, eu misturava farinha com açúcar e comia - revela ele.
O atleta, nascido na pequena Pé de Serra, a 220 quilômetros de Salvador, quase que não consegue se tornar jogador de futebol. Um problema de sopro no coração se tornou mais um adversário que ele tinha que driblar. - Nessa mesma época, eu descobri que tinha um problema cardíaco. E eu não jogava, só treinava. Era uma arritmia. O meu batimento cardíaco aumentava muito e a minha pressão era alta. Mas eu não precisei passar por nenhum tipo de cirurgia. Foi a fé que me curou. No entanto, o médico do Santa Cruz, Wilton Bezerra, garante que o atleta chegou ao clube sem apresentar problema cardíaco. - O Natan chegou aqui sem qualquer tipo de problema. Ele chegou a dizer que era meio ansioso e só. Pode ter sido uma arritmia leve, mas desde que ele chegou aqui, foi submetido a vários exames e nada foi detectado - explicou. Eis que o ano de 2009 chegou. E com ele, uma nova realidade para Natan. O Santa Cruz entrou no seu caminho e a oportunidade era única. O menino do interior da Bahia tinha que agarrá-la. Só que, por ironia do destino - que não cansou de testá-lo -, o meia teve que se profissionalizar "duas vezes". - Cheguei ao Santa por intermédio de um ex-jogador daqui, Baiano (meia-atacante que defendeu Santa Cruz, Náutico e Fluminense, na década de 80). Foi ele que me trouxe pra cá. Eu já tinha me profissionalizado na Bahia, mas cheguei aqui com idade de juniores. Joguei nessa categoria um tempo e depois me profissionalizei novamente, em 2009. Lesões musculares no profissional As primeiras chances na equipe profissional vieram em 2010. Em um clássico contra o Náutico, no dia 27 de janeiro daquele ano, nos Aflitos, o futebol de Natan saltou aos olhos. Mesmo com a derrota tricolor, por 2 a 1. Ali, começava a caminhada. Junto com ela, mais uma barreira. E uma que a promessa tricolor ainda não conseguiu saltar: as lesões. Nos últimos dois anos, Natan jogou apenas 38 jogos. Colega desde os tempos de base, o volante Memo mantém uma certa regularidade e já atingiu o número de 77 partidas disputadas. As inúmeras lesões eram dolorosas para o corpo e a mente do jogador. - Teve uma vez que eu senti durante um treino. E eu já vinha me recuperando de uma lesão. Quando eu senti o músculo abrir, chorei na hora. Não pela dor, mas porque eu sabia que tudo ia acontecer novamente. Já passou pela minha cabeça desistir, mas deixei tudo pra trás. Hoje estou com a cabeça tranquila. É o ano de 2013 que Natan tem como alvo. É o ano que ele quer, enfim, ocupar o posto tão esperado pela torcida tricolor. O ainda menino - tem 22 anos - garante estar pronto pra se tornar o maestro da equipe. - Estou com a cabeça tranquila. Estou em paz. Sei que não adianta ficar oscilando. Jogo três partidas bem, mas fico sete sem jogar. Agora quero manter minha estabilidade. Este ano, ficou faltando eu jogar o Brasileiro. Estou treinando forte, deixei as férias de lado. Só não treino no domingo, mas até em casa eu treino. Sei que tenho o apoio de todos. E quero retribuir - finalizou Natan.