O silêncio que mata.

O ano de 2019 até agora não nos trouxe boas notícias. Estamos vivendo sob o manto da perplexidade, e não é força de expressão, mas sim a leitura dos fatos que acontecem desde a primeira semana de janeiro.
Em rápida síntese, tivemos a tragédia ecológica e humanitária de Brumadinho, onde quase 200 brasileiros perderam a vida em questão de segundos. Em seguida, jovens atletas foram vítimas de um incêndio fatal; uma chuva torrencial em São Paulo vitimou outra dezena de pessoas; e essa semana mais dez pessoas morreram em uma escola, ambiente que denomino de 3 “S“, respectivamente “santuário sagrado do saber”.
Focando especificamente nesse tema, foi na manhã de uma quarta-feira como outra qualquer que as mídias noticiaram o massacre ocorrido na cidade de Suzano, interior de São Paulo. Dois rapazes, de 17 e 25 anos foram os algozes de funcionárias e alunos da instituição na qual ambos foram alunos.
Imediatamente houve o cerco policial e foi aberta uma linha de investigação para compreender o que houve, analisando o antepassado recente dos personagens envolvidos.
A primeira constatação obtida a partir de depoimento de uma das mães dos algozes se resume numa palavra bem conhecida do vocabulário estudantil: ele sofria “bullying” no ambiente escolar. Na sequência da investigação, a constatação de que o ataque levou pelo menos um ano e meio sendo elaborado. Psicologicamente, um ato desses é explicado como uma vingança que nasce a partir de um sentimento de humilhação, que gera recolhimento, inferioridade, revolta e explode em violência, nesse caso contra si e outros. Pessoas que conviveram com um deles o descrevem como pessoas calmas, alegres, de fácil relacionamento e reflexivos. Até a manhã desse dia, gente “normal” como qualquer um de nós. No interior da alma, aquilo que denomino fossa emocional, depósito de emoções negativas, que podem entrar em ebulição e vir à tona numa revolta sem tamanho. Um deles postou 20 imagens em redes sociais antes de cometer os crimes. A necessidade de expor sua vingança é algo da geração digital.
O mais jovem matou o comparsa e em seguida cometeu suicídio. Para entrar nessa empreitada, havia uma relação de amizade e confiança...mas faltou o equilíbrio do aconselhamento, um diálogo maduro, uma dose de sensibilidade, a solidariedade que deveria estar presente nas pessoas desde a infância, e que na ausência expõe qualquer pessoa a atos de selvageria. Se não tenho autoestima nem base de valores, minha vida não vale nada...e a dos outros vale algo para mim? Claro que não, infelizmente. Uma pergunta: com quem me relaciono, me acrescenta algo de bom?
São muitas perguntas e poucas respostas definitivas. É o retrato trágico da complexa convivência humana. Nos resta a solidariedade às vítimas, jovens e projeto de futuro para o país e as famílias. Mais uma tragédia no Brasil, assim como as demais plenamente evitáveis.
Cuidemos dos conteúdos individuais e coletivos, celebremos a vida a cada instante, a partir do diálogo saudável e instrutivo, pois o silêncio desencadeou essa tragédia. Basta de tragédias, basta de violência!
Prof. José Urbano
Do Blog do Jessé Aciole.