Má gestão e problemas estruturais são as principais queixas dos comerciantes do Calçadão
Em 27 de julho de 2015, a Caravana do CUSCUZ esteve no Calçadão de Confecções Miguel Arraes de Alencar. Como a maioria dos clientes, estacionamos no Moda Center Santa Cruz e seguimos a pé até entrarmos no Calçadão.
Trata-se de três galpões de estrutura metálica e pé direito elevado, com iluminação e piso de cimento, em que milhares de comerciantes têm a oportunidade de iniciar suas vidas empresariais.
Aos nossos entrevistados, a imensa maioria de comerciantes dos boxes, perguntamos "O que a Prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe pode fazer para melhorar a qualidade de trabalho no Calçadão Miguel Arraes?" Após ouvir as respostas e sugestões do povo, algumas inclusive surpreendentes, confraternizamos com um delicioso CUSCUZ em um dos pequenos restaurantes do setor azul.
As respostas foram diversas. Coletamos 125 citações de problemas, os quais pudemos agrupar e dividir em dois grandes grupos:
PROBLEMAS ESTRUTURAIS, em segundo lugar, com 50 das 125 citações
Visivelmente pudemos constatar que o Calçadão infelizmente foi mal projetado e necessitará de muitas intervenções estruturais. Apesar de óbvio, não se pensou que a imensa maioria dos clientes que frequentariam o Calçadão viriam a pé do Moda Center.
Desta forma, foi edificado um canal de esgotamento sanitário a céu aberto na frente do Calçadão, de modo que os pedestres que vêm do Moda Center têm, como primeira impressão e cartão de visitas do Calçadão, o esgoto com sua visão e odor desagradáveis!
Esse problema foi citado 17 vezes e a sugestão apontada pelos comerciantes é a de se edificar uma laje para cobrir o canal.
Outra inexplicável falha no projeto foi a insuficiente área coberta. Além de os boxes laterais ficarem praticamente expostos à chuva e ao sol, existe um espaço descoberto entre cada um dos setores (dos galpões). Esses espaços expõem ao sol e à chuva, não apenas os compradores que transitam entre os galpões, mas também os vendedores localizados em suas adjacências. Aumentar a área coberta foi uma solicitação citada 15 vezes pelos comerciantes.
Ainda como um dos grandes problemas estruturais, segundo os trabalhadores, existem apenas entradas de pedestre na região central da frente do Calçadão. Quando os clientes chegam, eles entram pelo centro da frente (únicas entradas existentes) e tendem a caminhar em direção ao centro dos galpões, o que prejudica muito a visibilidade dos produtos dos comerciantes localizados nas laterais da construção. Novos acessos para pedestres nas laterais do Calçadão foram citados 5 vezes. Melhorar os acessos dos veículos ao Calçadão (existe um acesso independente) e ao Moda Center foram citados juntos em 4 momentos.
Alguns problemas menos mencionados merecem ainda lembrança, como a ausência de pontos de energia, o que prejudica a comunicação pessoal (não há onde se carregar baterias de celulares) e empresarial (inviável usar maquinetas de cartão de crédito), além da acessibilidade, um capítulo a parte: em nenhum local do Calçadão encontramos sequer um sinal de que pessoas com deficiência são bem-vindas.
MÁ GESTÃO, o principal problema, com 68 das 125 citações
Diversas foram as citações relacionadas a problemas administrativos. Para melhorar o entendimento da opinião coletiva apurada pela Caravana do CUSCUZ, dividimos esses problemas em subgrupos.
O descaso com a limpeza foi citado 18 vezes, dos quais 6 se relacionam com a falta de faxina geral e coleta do lixo (ocorre apenas uma vez por semana). Já problemas relacionados ao descaso com os banheiros, como falta de higienizarão e falta de água foram citados 12 vezes. Recebemos a informação de que a maioria dos banheiros fica fechada, o que é intrigante!
Reduzir o valor pago por cada box, como taxa administrativa, foi isoladamente citada 14 vezes. Atualmente a taxa administrativa é cobrada a cada semana, 12 reais, segundo os trabalhadores do Calçadão. Eles dizem se tratar de um valor alto e que houve um aumento considerável recentemente (antes pagavam 5 reais por semana por cada box). Fizemos as contas!
Pagando 12 reais por semana, cada box paga R$ 51,60 por mês. Fizemos uma medição aproximada da área de cada box, cerca de 1,5 m2 por box. Temos então uma taxa administrativa cobrada mensalmente, por cada metro quadrado de box, ao valor de R$ 34,40 por mês. Fazendo uma rápida pesquisa na internet, pudemos constatar que as ricas famílias residentes nos luxuosos edifícios da Avenida Boa Viagem em Recife, um dos metros quadrados mais caros do Brasil, pagam, de condomínio, em média por metro quadrado, R$ 5,50 por mês. Já os refinados escritórios instalados nas salas do imponente Shopping Difusora em Caruaru pagam, por metro quadrado, o valor de R$ 6,70 por mês.
Ou seja, os humildes comerciantes dos boxes do Calçadão Miguel Arraes pagam um condomínio 6 vezes mais caro (600%!) do que as abastadas famílias da Avenida Boa Viagem e 5 vezes mais caro (500%!) do que os refinados escritórios do Shopping Difusora!
Também com 14 citações, a população levantou a ineficiente (ou inexistente) gestão de marketing e/ou publicidade. Divulgar o Calçadão e aumentar o número de clientes foi uma sugestão levantada 11 vezes. Viabilizar o uso de maquinetas de cartão de crédito (facilitar o ato da venda), aumentar o tempo de funcionamento da feira, e aumentar o valor agregado dos produtos comercializados no Calçadão também foram sugestões anotadas por nossa caravana.
Encontramos 12 citações para problemas relacionados com a microeconomia do Calçadão, em que se incluem a proibição ou a permissão para se portar e comercializar mercadorias nos corredores do Calçadão, bem como a redistribuição de lojas e boxes que não estão sendo utilizadas (observamos muitos boxes e algumas lojas fechados). Por fim, a falta de segurança foi citada 7 vezes. Os trabalhadores sugerem o retorno da Guarda Municipal e alguns informaram a necessidade de se contratar segurança privada, o que acarreta em custo complementar em suas apertadas planilhas.
Sugestões da Caravana do CUSCUZ
As demandas apontadas pelos trabalhadores são muitas! Há muito o que se melhorar no Calçadão Miguel Arraes. Entretanto, elegendo prioridades, podemos concluir que cuidados com a limpeza, sobretudo dos banheiros, são o primeiro passo. Realizar obras estruturais de adequação, principalmente, para acabar com o esgoto a céu aberto existente na entrada do Calçadão, aumentar a área coberta e ofertar acesso a pedestres vindos do Moda Center pelas laterais são intervenções de baixo custo e elevado benefício na melhoria da qualidade de trabalho no Calçadão. Essas alterações são, portanto, urgentes e completamente factíveis à Prefeitura.
Reduzir o preço da taxa de administração! Com todos os dispositivos legais existentes hoje, no sentido de tornar a administração pública mais eficiente, é inadmissível cobrar de comerciantes humildes, que estão começando a vida empresarial, um valor tão elevado e completamente fora da realidade como esse! Aliás, os comerciantes do Calçadão, sendo uma área de fomento da economia popular, deveriam ser subsidiados e não explorados como estão verdadeiramente sendo hoje.
Organizar melhor a microeconomia e atrair novos clientes são medidas importantes, mas, enquanto a entrada do Calçadão for um esgoto...
Do Blog do Jairo Gomes.